claudemir pereira

Da vaquinha virtual ao troco do Fundão, como fazer para bancar uma campanha

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Deni Zolin (arquivo/Diário)

Estima-se que cerca de 400 nomes sejam postos à disposição do eleitorado santa-mariense, lutando para conquistar vaga na Câmara. Do jeito que a carruagem trafega, imagina-se que até oito (muito improvavelmente além disso) pretendam ser prefeito. 

Numa campanha em tempos normais, já se imaginava a dificuldade de financiamento a ser enfrentada por partidos e candidatos. Com a pandemia, o problema aumentou consideravelmente de tamanho, pois sequer se sabe como fazer para ir em busca do eleitor - com a exceção da ainda insondável internet, esta talvez o grande instrumento que sobrou para quem concorre ao Legislativo.

Aos pretendentes ao Executivo, aposta-se que o rádio e a televisão, mais uma vez, serão "a salvação da lavoura" de uma campanha limitada. Aos do parlamento, a história fica ainda pior, sobretudo para os menos conhecidos - isto é, os que não têm espaço midiático, seja por sua posição na cidade, por atuarem nos veículos ou já terem cargos que os exponha.

Ok, mas como vai funcionar, então?

Afora o próprio bolso, como se financiarão os concorrentes à prefeitura? De duas maneiras, no limite. Uma é o Fundo Partidário. Para isso, as agremiações têm que entender Santa Maria como prioridade - o que facilitaria o fluxo do troco que está no cofre, cuja chave é das direções nacionais e/ou estaduais.

Como curiosidade, entre os candidatos majoritários, olha só o que cabe a cada partido, no total nacional: PSDB de Jorge Pozzobom (R$ 130 milhões), PT de Luciano Guerra (R$ 201 milhões), PP de Sérgio Cechin (140 milhões), PDT de Marcelo Bisogno (R$ 103 milhões), Republicanos de Jader Maretoli (R$ 100 milhões) e Cidadania de Evandro de Barros Behr (R$ 35 milhões).

Será que as agremiações farão pingar algum na Boca do Monte? E os aliados de cada concorrente já posto, também contribuirão? No caso, o DEM (R$ 120 milhões), o PSD (R$ 138 milhões), o MDB (R$ 148 milhões) e o PSB (R$ 109 milhões).

Aí está a fonte maior e possível aos candidatos majoritários. Mas ninguém sabe, a rigor, como os partidos se comportarão.

Há ainda uma outra possibilidade. As chamadas vaquinhas de internet (legalmente liberadas, com a devida prestação de contas e regras específicas). Que, por sinal, já podem começar, embora o gasto só seja feito na campanha. O único a buscar esse artifício, por enquanto, é Luciano Guerra, do PT - que captou, até aqui, R$ 5 mil (em números redondos). Vai ajudar? Vai. Resolver? Improvável.

Resta esperar como agirão, em relação a este instrumento, as outras candidaturas a prefeito ou ao Legislativo. Por enquanto, inclusive por ser novidade, o tal de crowdfunding (apelido bonito da vaquinha) é completo mistério.

Em tempo: além da dificuldade de buscar recursos para bancar o proselitismo, o fato é que a campanha eleitoral será sobretudo eletrônica. Ou alguém imagina caminhadas, nesses tempos pandêmicos?

O INIMIGO MORA AO LADO. E BEM AO LADO 
A história é real. O partido também. Preserva-se a fonte, para não criar problemas adicionais a ela. Embora não seja candidata, é militante efetiva. E graúda. A agremiação é das que imaginam ser possível eleger entre quatro ou cinco edis. 

Terá um número bem razoável de candidatos. Se não fechar o máximo, ficará bem próximo. E um terço deles é competitivo, o que ajuda a imaginar a possibilidade de alcançar um quinteto de eleitos - o que ninguém tem hoje, no Legislativo.

Então, onde está o problema? Para o partido, sequelas futuras - especialmente se não vier uma vitória no pleito majoritário, sempre uma garantia de espaço político para quem ficar de fora.

E para os candidatos? Onde está a bronca? No(a) colega. Sim, isso mesmo. Os cotovelaços são inevitáveis, quando se sabe que há cerca de 10 concorrentes muito fortes, com estrutura compatível à ambição política e apoio interno idem.

Então, de repente, se descobre que o maior inimigo não é o partido adversário, senão os próprios companheiros. É fato. E é um caminho aberto para a hipocrisia e para as "patadas", com direito até a tirar de parceiros apoiadores e cabos eleitorais qualificados. E ponto.

SOBRA O PRÓPRIO BOLSO. E A EXCEÇÃO CHAMADA PSL

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (arquivo/Diário)

Se a situação já é difícil para os candidatos no pleito majoritário, especialmente dos que representam partidos com estrutura menor, imagina o drama dos concorrentes a uma das 21 cadeiras disponíveis na Câmara. 

Não bastasse a óbvia vantagem de quem já está lá, com toda uma estrutura política e de pessoal posta na campanha, e dos nomes naturalmente conhecidos por sua atuação na cidade e com espaços na mídia, ainda há a dificuldade adicional da pandemia. Ela, é inevitável, impõe modos heterodoxos de busca do apoio do eleitor. Sim, até mesmo o chamado corpo a corpo e a visita de casa em casa e/ou com grupos específicos de eleitores estão vetadas pela pandemia e suas restrições de aglomeração.

Então, há que se inventar. E aí entra-se noutra questão central: como financiar uma campanha já naturalmente difícil, e com todas essas complicações adicionais? Ainda que alguns sonhem com o financiamento coletivo, é bastante improvável que esse método possa dar certo. Então, o que sobra? Isso mesmo: o candidato terá que colocar a mão no próprio bolso. E talvez nos dos amigos e parentes. E nada mais.

PS. Partidos que apostam somente nas candidaturas proporcionais, eventualmente podem destinar recursos para seus candidatos. Ao menos para os mais competitivos. Se isso acontecer, quem pode se dar bem (dependendo da estratégia nacional e estadual da agremiação) são os candidatos do PSL. Sem nome para prefeito, a sigla mira na Câmara. E, afinal, depois do PT, é o ex-partido de Bolsonaro o que tem o Fundão mais fornido: R$ 199 milhões. Se sobrar uma beiradinha para Santa Maria facilitará muito a vida dos concorrentes pesselistas.

LUNETA

APLICATIVOS 

De pronto, o escriba esclarece (sim, é melhor): as frases a seguir contêm ironia, muita ironia. Dito isto, cá entre nós, a economia santa-mariense "agradece" aos vereadores que mudaram o projeto que regulamenta os aplicativos. Especialmente o que desobriga as empresas de emplacar seus veículos na cidade, sem falar da desoneração de se instalar juridicamente em Santa Maria. Uma "beleza", cá entre nós. 

"CARNIFICINA" 

Se espera verdadeira "carnificina" na disputa por uma cadeira de vereador. E aí cada um se vira como pode. Os mais antigos e conhecidos, claro, levam vantagem. Um deles, por exemplo, tem feito visitas a pessoas ilustres (que poderão ou não apoiá-lo) e coloca direto nas redes sociais. Ele tentará o retorno ao Legislativo. Se conseguirá ou não, as urnas vão dizer. Mas a tática é viável. E talvez a única possível. 

SEM LARANJAS 

De um observador privilegiado da política local há alguns anos, impressionado com o que pode ser a grande novidade da campanha de 2020: a grande quantidade de boas (e competitivas) candidatas mulheres, que todos os grandes partidos de Santa Maria estão apresentando. E mais: a praticamente eliminada e arriscada indicação de candidatas "laranjas". 

SEM O FUNDÃO

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">

Tem gente fula com o Novo, do deputado Giuseppe Riesgo (foto ao lado). Como também do PRTB, que decidiu esta semana apoiar Sérgio Cechin (PP). E por quê? Porque os dois partidos cometeram a "heresia" de abrir mão, em correspondência para o TSE, do troco do Fundão Eleitoral. Os novistas não receberão os R$ 36 milhões a que tinham direito. E os peerretebistas não levarão o R$ 1,2 milhão que lhe cabia.

PARA FECHAR!
A bronca exacerbada, com direito a nota por todos assinada, dos vereadores indispostos com a criação de comissão externa da Ordem dos Advogados do Brasil, é o que se pode chamar de exagero corporativista. Que de nada adiantará, aliás, pois se trata de prática nacional institucionalizada e só aqui há restrição. Sem falar que passa a ideia, à sociedade, de que os edis não se garantem politica e tecnicamente. E ponto. 


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

O risco do isolamento das vanguardas Anterior

O risco do isolamento das vanguardas

Movidos pela Esperança Próximo

Movidos pela Esperança

Colunistas do Impresso